sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Poemas Alheios da Gaveta

Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Navegamos de vaga em vaga
Nao soubemos de dor nem magoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manha clara

La do cimo duma montanha
Acendemos uma fogueira
Para nao se apagar a chama
Que da vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
La do cimo duma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos pela noite fora
Onde ha sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória ja nao espera
Fresca brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca

(Zeca Afonso, 1970)

2 comentários:

Bela Isa disse...

Sim, sim! Esta foi uma grande escolha! Zeca Afonso é um dos nossos grandes poetas, cantores, lutadores. As músicas dele acompanharam-me na infância enquanto viajava no carro com os meus pais e eles recordavam o tempo da revolução que eu não vivi. Existem textos verdadeiramente brilhantes nos cd's de Zeca Afonso... e este é um deles... Desencanta mais! :) Porque afinal... "somos (todos) filhos da madrugada"... e formigas que precisamos por vezes de recordar que temos mudar de carreiro... porque a morte sai à rua em dias assim... porque todos nós procuramos a nossa estrela d'alva... Porque vivi alguns anos numa aldeia onde na época do natal grupos de pessoas me "cantavam as janeiras" à porta, esse Natal dos Simples que só o sr. José Afonso poderia cantar daquela forma.
"(...) Não me obriguem a vir para a rua
Gritar
Que é já tempo d' embalar a trouxa
E zarpar (...)"
Beijinhos***

MÓNICA disse...

Esta foi uma das músicas com que cresci a ouvir vezes sem conta, a minha mãe era fã, e eu também fiquei.
Ainda me lembro de ter chorado no dia em que ele morreu, era pequenita, mas lembro-me bem!
Ouvia os discos de vinil dele, quase até gastar a agulha.
Agora tenho-os em CD.
E para mim, ele nunca morrerá...
bjks